Ano passado tive uma "brilhante" idéia. Iria fazer uma surpresa para minha esposa em comemoração aos cinco anos de casados. Então resolvi me aventurar em um desses Hotéis-Fazenda que ficam ao longo da BR-364. Convidei a patroa para sair em um final de semana. Era um sábado, lembro-me bem, pois foi o dia em que faleceu aquela cantora Amy Winehouse, mais precisamente em 23/07/2011. Dias antes, eu mesmo tinha comparecido no local, para deixar tudo bem preparado, combinei com uma moça simpática que tratou de fazer as devidas anotações em sua agenda, inclusive reservando o chalé 03, com champagne, flores, decorações e etc (isso na verdade ela, minha esposa, não sabe de nada até quando ver essa postagem, mas como coloquei uma senha no computador que não me lembro qual é, demorará muito tempo para que ela saiba desse fato, ufa!).
Muito bem, continuando, no dia marcado, pegamos a estrada e, após alguns quilômetros, chegamos ao nosso destino. Fomos falar com a secretária para ver em qual chalé nós ficaríamos (tinha que fazer aquela onda toda né), a moça também era muito simpática, mas não era a mesma que tinha me atendido dias atrás, então perguntei pela outra secretária, e foi-me dito de que ela tinha passado mal e havia três dias que não comparecia mais ao trabalho, (já dá para ter uma idéia da roubada em que eu estava prestes a me meter), daí ela pegou a chave do chalé 07 e disse que tudo estava pronto! Não sei porque que nessas ocasiões, a gente mesmo sabendo que dará tudo errado, pois tudo o que começa errado a tendência é piorar, temos o senso da imbecilidade de tocar para frente, acreditando que as coisas vão melhorar, isso não tem lógica! O correto seria abandonar aquele lugar, e partir para o Plano B, como toda pessoa normal faria, mas quem disse que eu sou normal? Então peguei as chaves e partimos para localizar o tal chalé 07. Passamos a porteira, tinha uma subida íngreme e a estrada estava em péssimas condições, sorte que eu estava com um carro mais velho, mas mesmo assim não gosto quando bate uma pedra, ou arrasta embaixo nesses quebra-molas.
Então para evitar algum estrago maior, havia uma valeta aberta pelas chuvas, eu alinhei um pneu de um lado da valeta e outro pneu que ficaria em um pé da montanha, e fui indo bem devagarinho, com o coração saindo pela boca, o carro ficou bem inclinado, minha mulher, que sofre de asma, começou a usar aquela bombinha, mas não me intimidei e fui em frente, estava decidido que faria de tudo para que tivesse um fim-de-semana inesquecível. E certamente o consegui, foi muito inesquecível mesmo! Então passada aquela primeira etapa. Chegamos nos chalés. Havia apenas seis chalés, mas a nossa chave era a do chalé 07!!!??? Então nem descemos do carro e comentei para minha esposa, da possibilidade do tal chalé ficar mais em cima do morro. Então para lá nos dirigimos, não tinha nenhuma valeta, e prosseguimos, chegando no final do morro, vimos que não havia chalé nenhum, e pior, existia uma ribanceira, um precipício muito grande, e, para variar, não havia espaço suficiente para fazer manobra e sair de frente, então tive que descer aquele morro alto, de ré. Perdi as contas de quantas bombinhas minha esposa usou, o fato é que eu sempre compro muitas e ela as levas todas em sua bolsa.
Finalmente chegamos no final do morro e então havia a possibilidade de virar o carro para que o mesmo começasse a andar de frente, tinha uma descida, e muitas, mas muitas folhas mesmo caídas das árvores espalhadas pelo chão, daí solicitei que minha esposa descesse do carro e saísse a pé para me orientar se haveria ou não algum buraco por onde o carro iria passar. Pois minha visão era impedida por causa das folhas no chão. Ela foi, engatei uma primeira, e comecei a descer a lomba, controlando no pedal de freio, acontece que eram tantas folhas, que o carro não obedecia a comando nenhum de freio, pois ele, o carro, deslisava por sobre as folhas que também estavam molhadas, sendo que por pouco não terminei por atropelar a minha própria esposa, por um ato involuntário do carro (ou seriam das folhas?). Então voltemos lá para falar com a secretária, que para mim já não passava de uma espelunca, mas minha honra estava acima de tudo, então tinha que continuar com minha aventura. A moça então se penitenciou, informando ter encontrado a agenda e nos deu as chaves do chalé número 03, finalmente, o mesmo que eu já havia reservado dias antes. Lá fomos nós novamente. Estacionei o carro na garagem, pegamos as malas, e fomos para o "nosso" chalé. É incrível que as surpresas nesses lugares não param de acontecer. Os acontecimentos vão se sucedendo sem que possamos fazer nada, ficamos a mercê do acaso. Coloquei a chave na porta, essa se abriu, tudo bem, mas os colchões estavam todos fora de lugar, encostados na parede, copos sujos de café, pedaços de pão pelo chão, no banheiro haviam até camisinhas usadas pelo chão. Não sei se aquilo era uma pegadinha, um engano ou o quê mais. Não conseguia chorar, rir, falar, comentar, fiquei paralisado por uns breves momentos, sem ter reação nenhuma. Apenas pensava com meus botões: - O que eu fiz para merecer tudo isso? Continuando, observei que havia um controle de TV no chão, vi que era igual ao que eu tinha em casa, a TV era da mesma marca da minha. Tinha que visualizar qualquer coisa naquele momento capaz de me reportar a minha casa. Minha esposa então ligou para o celular (que tinha pego depois da última visita) da secretária que nos mandou para ali, e fomos avisados que a chave também abria outro chalé, e era nós que estávamos no chalé errado. Bom, isso é bom! Vamos para o chalé certo. O chalé certo ficava atrás desse que nós estávamos. Entramos no chalé certo, e aí sim, finalmente me senti como um rei me atirando na cama. Depois fomos almoçar, mas ao chegar lá, era tanta risada nossa, que mal podíamos falar, haviam pessoas que estavam almoçando e ficaram nos olhando, devem ter pensado que talvez estivéssemos drogados ou coisa parecida. Foi muito divertido.
Após o almoço peguei um litrão de coca-zero e levei para o chalé pois lá havia um frigobar. Fizemos um tour pelo local, fomos na piscina, e a noite havia chegado, então nos retiramos para o chalé. Imaginava sentar na varanda, olhando para um céu estrelado, e ouvindo o barulho da natureza, o som dos grilos, o coachar dos sapos, etc. Estava quente, e havia uma boa brisa para refrescar aquele momento especial. Tomei banho normalmente, como faço em casa. Deitei-me na cama, minha esposa já dormia fazia algumas horas, ela tinha caminhado muito, subindo e descendo morros, estava exausta. A lâmpada da varanda estava queimada. Quando fui ligar a TV, observei que não havia nenhum controle naquele chalé. Já era em torno da meia-noite. Mas lembrei-me que no chalé de trás havia um controle de TV, qual também era igual ao modelo que estava nesse chalé. Então sai devagarinho da cama para não acordar minha esposa, saí pela lateral do chalé pelo lado direito, estava de chinelo de dedos, nos fundos havia uma churrasqueira que tinha uma lâmpada então acendi a luz e fui lá no outro chalé, o chão da varanda era todo de madeira, mas perto da churrasqueira era de cerâmica, mas ao sair dessa vez na rua, era chão mesmo, então pisei em uma coisa dura e comprida, e ali naquele lugar não havia nenhuma iluminação, era escuro como um breu, a princípio eu não tive medo, entrei no outro chalé peguei o controle e antes de voltar, aí sim, é que fui imaginar o que seria aquilo em que eu tinha pisado? Poderia ser uma cobra! Era noite, e as cobras andam de noite porque é mais fresquinho, para caçar. Daí comecei a ficar realmente com medo, como eu passaria ali por aquele lugar novamente? E se a cobra me picasse quando eu pisar em cima dela? E se eu gritar para minha esposa? O condicionador de ar estava ligado, fazia um barulhão, e eu estava um pouco distante, poderia ser que ela não ouvisse! E se ouvisse, o que ela poderia fazer para me ajudar? Daí eu disse para mim mesmo: - Hélio, tú é um homem ou um saco de batatas. Então agarrei coragem, fechei a porta e comecei a correr. Poderia ter uma chance se fosse bem rápido, o que diga-se de passagem, é um pouco difícil ser rápido com meus 130 kg. Tinha chuviscado um pouco e a cerâmica de perto da churrasqueira estava molhada.
Saí correndo, dessa vez não senti pisar em nada de incomum, mas quando virei à esquerda para entrar na varanda, na parte da churrasqueira, tive a maior surpresa: Pererecas, muitas delas, pretas com a barriga branca, pequenas, rápidas, e que pulavam para todos os lados, quando pisei na cerâmica, estava correndo, então um dos meus pés foi e o outro ficou, consegui me equilibrar, devo ter "esquiado" por uns breves milésimos de segundo, deixei a luz acesa mesmo, azar, pensei, logo senti uma dor de cãimbra pelo esforço que meus músculos da batata da perna fizeram para que eu não caísse. Eu não tenho medo de pererecas não, eu tenho é pavor mesmo. Cheguei mancando na parte do chão de madeira do meu chalé.
Desta vez não deu para aguentar, quando fui entrar no quarto, tinha uma aranha caranguejeira enorme bem na porta, calculei do tamanho de um prato da Santa Marina e soltei um berro tão alto que fez minha esposa cair da cama, ela estava em sono profundo e pensou que eu estava sendo assaltado ou coisa parecida. Quase tive um enfarte. Ela foi abrir a porta, eu disse não abre não, tem uma aranha, um monstro aí na porta. Daí, com aquele grito veio o segurança para ver o que havia acontecido, eu disse-lhe, com muita vergonha, que estava tudo bem, tinha sido só uma brincadeira! Ele foi embora. Mais uma dose de coragem e pulei para dentro do quarto. Fechei a porta e disse só abro amanhá de manhã! Daí fui ao banheiro tirar "água do joelho", e novamente, parecia até uma praga de proporções bíblicas, haviam pererecas por todos os lados, que a "água do joelho" foi parar na parede, no chão, e em mim mesmo, saí correndo dali, bati a porta do banheiro. E disse para minha esposa, eu não aguento mais, estou jogando a toalha, "eles" venceram, não sabendo a quem direcionar minha raiva, vamos embora falei para minha esposa, que ponderou dizendo que já eram altas horas da madrugada e que tínhamos que pagar a diária, e que todos estavam dormindo, e que teríamos que esperar pela manhã. Concordei, então na primeira hora da manhã sairíamos daquele holocausto, daquela cena de horror. Por sorte, as pererecas não vinham para o quarto, nesse momento me senti o mais sortudo do mundo, poderia dormir tranquilo. Mas não foi bem o que aconteceu. As malditas pererecas se atiravam contra o solo, que dava para ouvir o barulho de suas barrigas se chocando contra o chão, pareciam aqueles pilotos japoneses da Segunda Guerra Mundial, os Kamikases, e isso fazia com que eu não dormisse, pois era um barulho terrível, dando a impressão de estarem pelo quarto.
Daí veio uma vontade novamente de tirar "água do joelho". E agora? Como faria? Eu tenho uma imaginação muito fértil, uma criatividade que tem me salvado em muitos momentos cruciais de minha vida. Então, fui para o frigobar, peguei um litrão de coca-zero que eu havia pego ainda no almoço, e mesmo com a bexiga cheia, tive de tomar um pouco mais de um quarto do litrão, pois não passava pela minha cabeça disperdiçar aquele líquido tão precioso da coca-cola, pelo chão, pois não dava para entrar no banheiro, e nem sair na rua. Após beber tudo, peguei um alicate de cortar unhas que minha esposa tinha na bolsa, abri um tampão do litrão, e me aliviei ali mesmo. Novamente me sentia como um rei. Agora poderia dormir, "tirar água do joelho" etc. Pela manhã o litrão estava quase cheio, se não tivesse amanhecido rápido, eu não sei como seria para esvaziá-lo. Pela manhã, para minha surpresa, não haviam mais pererecas no banheiro!! Para onde teriam ido? Será que eram frutos de minha imaginação? Sei lá! Também não queria saber mais de nada. Arrumamos nossas coisas. E saímos de lá o mais rápido possível. Pagamos as diárias. Até hoje nunca perguntei pelas flores, champagnhe e decoração que prometeram. Comemorações de casamento, daqui para frente, só em casa mesmo. Aventura nuca mais. Para quem gosta de mato, eu não recomendo. Até a próxima postagem!
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