A morada de meu pai fica entre dois edifícios, em uma avenida central, na cidade de Canoas-RS. O terreno foi herança do pai dele, era originalmente uma fazenda que depois reduziu para sítio, depois para uma chácara e por fim virou um terreno ou uma data, o que preferir. Há três casas nesse terreno, uma de morada, outra onde fica a garagem e outra nos fundos que foi minha primeira casa, com três peças apenas, quarto, cozinha e banheiro. Há muitas árvores frutíferas, inclusive uma parecida com figueira que fornece uma enorme sombra e onde se mateava no final da tarde. Com a chegada de sua aposentadoria ele fez uma espécie de estacionamento naquele pátio grande onde reside. Hoje em dia, a maioria dos casais tem dois ou três carros, sendo um para o homem e outro para mulher, e nos prédios que moram, muitas vezes há somente uma vaga na garagem, então esses vizinhos, digamos assim, de meus pais, ao verem, do alto dos prédios onde moram, aquele pátio tão grande com lugar suficiente para colocar vários carros, solicitavam ao meu pai a gentileza de deixar o carro lá. Daí foi surgindo um que outro que pagava por essa benesse, até que virou uma espécie de estacionamento, mas dinheiro que é bom não vinha mesmo, uns pagavam, outros nem muito obrigado davam. Eles, os meus pais são bem velhinhos e a turma se aproveita dessa situação. Então uma vez chegou para ele um homem, qual já usava o estacionamento, e lhe pediu um outro favor. Ele era caminhoneiro, e tinha ganho de presente um filhote de loro, de papagaio, na Bahia, e lá no prédio onde iria morar, o síndico não aceitava animais, então ele daria o papagaio para o meu pai, se é claro que soubesse que seria bem cuidado. Isso nem era preciso dizer, pois é claro que o meu pai seria bem cuidadoso com o papagaio, aliás com tudo que é bicho, hoje em dia ele não mata nem mesmo uma simples formiga, dizendo que este mundo é muito grande e que há lugar para todos. Uma lição de vida!
Pois bem, o papagaio ficou lá em casa, foi amor à primeira vista entre ele e o meu pai, ele se encrespava todo quando o via. Parecia aqueles piratas com seu velho papagaio. Em pouco tempo ele já falava o nome do meu pai, fazia perguntas etc, mais ou menos assim: - Oiii! Tudo bom meu guri da véia? - Oiii, oraaaa! - Hélio, tá bom? - Tá bom loro!! Tudo bom né!! E xingava minha mãe dizendo: - Rosa vai a cú! Como ele aprendia essas coisas eu nem imagino! Além de cantar a cantiga de roda Atirei o pau no gato e ainda por cima o hino do Grêmio!! Sendo meu pai colorado, dizia: - Canta loro, assim ó, Glória do desporto nacional...óh, Internacional..., mas não adiantava, era só: - Até a pé nós iremos...para o que der e vier.. Era impressionante o papagaio sabia de cor o hino todo do Grêmio. E ainda falava para o meu pai: -Hélio, canta! -Hélio, canta! E quando estávamos na mesa jantando, ou tomando café, ele sempre perguntava; - Hélio, tá bom? E ficava olhando, como quem diz, vocês não vão me oferecer nada de gostoso que estão comendo? Daí meu pai dava para ele um pedacinho do que estava comendo, se era macarrão, era um fiozinho só, o pão, era um pedacinho que ele só comia se tivesse algo doce misturado como uma geléia ou doce de leite. A bolacha ele primeiro molhava na água e depois de macia ele comia. É claro que todo o santo dia, meu pai limpava a sua gaiola, comprava no Zaffari Canoas, sementes de girassol essas coisas. Eram quase que uma relação de pai e filho. O meu pai fazia cafuné na cabeça do loro, pegava as duas pernas dele, etc, mais ninguém podia chegar perto, ele inclusive um dia tirou um pedaço do dedo de minha mãe. E comigo um dia ele foi me agradando, se ouriçando, dizendo: - Oi, tudo bom? - Oi, tudo bom? E quando me aproximei minha cabeça de sua gaiola que era grande, ele segurou meus cabelos pelos pezinhos, e quando eu puxei, ele se desequilibrou e me chamou de feioso. Parecia saber o que falava! Quando chegava a época de verão, meus pais o levava junto para Quintão, onde ficava a casa de praia. Tinha que tirar licença no Ibama com toda aquela burocracia familiar desses órgãos. Isso foi até setembro de 2011, quando veio a óbito minha mãe. Nessa época, meu pai tinha ficado com ela desde junho até setembro no hospital, lhe dando toda a atenção desse mundo. Os animalzinhos lá de casa ficaram sozinhos, tinha dia que meu ia lá, tinha dia que não. Tinha além do loro, a cachorra, chamada de Sofia, mas que todos só chamam de Pichuca, e ainda a gatinha que nunca teve nome, a não ser aquele que meu chamava ela: - Putinha! Era castrada, uma gata de pelo cinza, uma gracinha. Então um primo de meu pai se propôs a ficar com o loro enquanto durasse os dias de internamento de minha mãe no hospital Nossa das Graças em Canoas-RS. Meu pai aceitou fazendo as mesmas recomendações ao meu primo, para cuidar bem dele. E assim se fez. O meu primo (também o considero), levou o papagaio, e parece que o papagaio também gostou dele. A prova de que ele simpatizava com alguém era quando ele se ouriçava e arregalava os olhos, além é claro de falar e cantar muito. Com a morte de minha mãe ele, o meu pai, acabou por dar o papagaio em definitivo ao meu primo, pois eu já tinha feito reforma na minha casa, para esperar a vinda de meu pai, e como sou filho único, não o deixaria ficar lá sozinho, e traria ele para morar comigo em Rondônia. Não daria para trazer o papagaio por causa da burocracia. Então foi que no funeral de minha mãe, apareceu o ex-dono do papagaio, o caminhoneiro, aquele que o deu para meu pai e disse que queria o papagaio de volta pois meu pai viria para Rondônia. E agora? Que enrascada? Meu pai disse que já tinha dado o loro para meu primo. - Mas o homem insistiu que o queria! Daí então ficou marcada uma data para o homem ir lá em casa buscar o papagaio. Quando o meu pai pediu o papagaio de volta para o meu primo, ouve choradeira lá na casa dele. Mas meu pai ficou num mato sem cachorro, apesar de dizer que o que está dado, está dado, ele não queria se indispor com ninguém. O Papagaio finalmente voltou para casa dele a espera do dia para que fosse devolvido ao seu dono original. Foram menos de 24 horas que eles, o meu pai e o papagaio tiveram para se despedir. Foi triste, muito triste quando ouvimos a buzina na frente da casa o carro do dono do papagaio. Ele tinha chegado, agora era entregar aquele papagaio que viveu em companhia de meus pais por mais de 20 anos, uma vida. O papagaio parecia saber o que estava acontecendo, se ouriçou pela última vez para o meu pai, conversou com ele e cantou para ele. A gaiola ficou no banco de trás do carro, após as despedidas o motor é ligado, o carro começa a sair suavemente, enquanto isso podíamos ver a cabeça do papagaio se esticando para ver onde estava o meu pai, o carro foi embora. Eu conseguia ouvir os soluços abafados de meu pai, que olhando com a cabela voltada para baixo foi entrando em casa dizendo: - É, é mais um que se vai!
Ainda tem a história da gatinha e da cachorra. Mas por hoje, vou ficando por aqui. Até a próxima postagem!
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