Ilustração:
Minha mãe faleceu há, exatamente, um ano, e meu pai veio para minha casa. Ele é católico, daquele que não vai a missa. Detesta os crentes de carteirinha. Pois é, e eu sou crente, daqueles que não perde culto, fui criado dentro da igreja católica, batizado, primeira comunhão, crismado e casado, mas virei crente por opção. Não faço discriminação dessa ou daquela religião, a final, todas falam do mesmo Deus, de um só criador, de uma forma ou de outra, e cada uma tem os seus próprios dogmas, e creio que devemos respeitá-los, muito embora não concordamos com alguns deles. Aliás todos de nossa casa são crentes, ou melhor, evangélicos. Há pelo menos umas três semanas, meu pai, começou a perguntar onde era a igreja católica, e todas as vezes em que eu passava pela Matriz, lhe mostrava: - É ali pai! - Temos que mandar rezar uma missa para tua mãe! - Tudo bem! - Amanhã mesmo iremos falar com o padre. E, assim como prometido, no outro dia, lá fui eu e ele, na Matriz, para falar com o padre. Lá chegando, haviam duas pessoas, duas senhoras, que faziam a limpeza da igreja, e ao perguntar auma delas, sobre como eu deveria proceder para pedir que fosse realizada a missa de um ano pela morte súbita de minha mãe, ela me respondeu que, era para eu escrever em um papel, com os dados dela como nome, de onde ela era, que ela própria entregaria para a pessoa responsável, que por fim entregaria ao padre. Assim foi feito. Escrevi o nome de minha mãe, quando ela faleceu, o lugar de onde ela era, e o pedido de missa pelo seu, esposo, no caso, meu pai, e entreguei o papel para a referida senhora. A missa seria para o dia 29/09/2012, dia em que ela faleceu, e cairia em um sábado. Fomos embora. Passado uns dias e meu pai novamente me perguntou sobre a missa, lhe disse que agora era só esperar e comparecer lá. Mais uns dias e me indagou novamente. Então fomos lá naquele mesmo local, na Matriz, era mais de 20 horas, não me lembro do dia. Mas chegando lá, a igreja estava fechada, mas tinha umas pessoas que conversavam na porta dos fundos da igreja, dando a entender que eram membros ativos daquela congregação. Aproximei-me deles e perguntei sobre o padre e de como proceder para pedir para rezar a missa de um ano pela morte de minha mãe. Eles me disseram que era para eu chegar no dia marcado, ou seja, 29/09/2012, um pouco antes do início da missa para entregar ao padre o papel com os dados de minha mãe, conforme já havia feito, mas parece que o meu pai estava desconfiado de mim, por eu ser evangélico, e, creio que em sua imaginação eu pudesse sabotar a missa de minha própria mãe. Dois dias antes da missa, lá fomos nós novamente. Ele queria porque queria falar com o padre. Mas não obteve sucesso. Mas não se contentando, ele me mandou escrever novamente em um pedaço de papel em branco, os dados e o pedido para o padre rezar a missa para minha mãe. Então para acalmá-lo, soube que minha filha tem um amigo que faz parte daquela paróquia e que mantém um grupo de jovens lá, então solicitei que entrasse em contato com esse jovem e me dissesse qual o horário da missa no sábado, ao que fui informado de que seria às 19h30min. No referido dia, o Inter jogaria com o Cruzeiro em Minas Gerais, e a partida seria transmitida ao vivo. E, considerando o horário final da partida e do horário inicial da missa, pelos meus cálculos, daria para participar dos dois eventos e com sobra de tempo. No sábado, meu pai já estava pronto, lá pelas 15 horas, todo arrumado, coitadinho, triste, muito triste pela minha mãe. Mas estava ainda muito cedo. Então começa o jogo do Inter x Cruzeiro, e eu fico controlando a todo o instante o relógio. Termina o primeiro tempo e o Inter não se mexe em campo. Acaba empatando com o Cruzeiro Começa o segundo tempo, vimos mais uns 10 minutos e anuncio que é chegada a hora de partirmos para a igreja, pois faltavam ainda 20 minutos, tempo mais do que suficiente para lá chegar, pois o trajeto de minha casa até a igreja, não deve demorar mais do que 03 minutos, isso indo de carro. Chegando lá, ao nos aproximarmos da porta lateral de entrada, dava para se ouvir a voz do padre. Hein! - A missa já começou? Entramos na igreja, e fomos sentar no segundo banco. Sim meus caros, a missa já tinha iniciado, e pelo andar da carruagem, parecia estar mais para o final, na verdade estava no final do sermão. E agora? O quê fazer? O padre encerra o seu sermão. O papel está no bolso de meu pai, eu peço para que ele me entregue, e assim é feito. Tenho que agir rápido. Penso em dar uma volta pela lateral da igreja e entrar por trás, e entregar o papel para um dos membros que estavam lá, para enfim o papel chegar às mãos do senhor padre. Mas tive de abandonar essa idéia, pois as pessoas que estavam lá perto, logo saíram de lá. Um senhor se levanta bem perto de onde nós estávamos e se encaminha para uma sala que fica a nossa esquerda, e à direita do altar, penso que na volta eu lhe entregarei o papel e estará tudo resolvido, mas na volta, ele fica em uma mesa que parecia ter um notebook, e não veio mais para o banco perto de nós. Então, uma senhora pega o microfone, a que auxilia o senhor padre na condução da missa, e do púlpito, faz as orações, então criei coragem, levantei-me e fui em direção a ela, e, ao mesmo tempo em que ela estava falando no microfone, eu coloquei o papel do pedido de missa, para minha mãe, quase em cima do texto que ela estava lendo e rezando. Ela me olhou e continuou. Voltei ao meu lugar. Depois da oração dela. Ela passa finalmente o papel para o senhor padre. E, logo em seguida, há a oração geral e as especificas, como a do pedido de missa para minha mãe. Então o senhor padre fala, que a missa é em favor de minha mãe pronunciando o nome de minha mãe, em alto e bom som, e para minha surpresa, chama o meu pai lá na frente, pois eu coloquei no papel, a idade de meu pai, 90 anos, então ele, o senhor padre, pega as mãos de meu pai e disse-lhe que o lugar em que ela, a minha mãe, se encontrava, era muito melhor do que aqui. Chorei junto com meu pai, quando o senhor padre pronunciou aquelas palavras, pois o Senhor viu lá de cima, a minha dedicação para que ocorresse tudo bem nessa missa, mas que por um momento cheguei a pensar que não iria dar certo. Finalmente o senhor padre agradece a presença de todos, a de meu pai principalmente. Isso foi motivo de muita alegria para mim. Além da missa ser realizada para a minha mãe, o senhor padre chamou o meu pai, lá na frente de todos, cumprimentando-o e consolando-o nessa hora tão difícil de nossa vida, mas principalmente de sua vida, pois viveu com minha mãe por mais de 66 anos. Eles casaram em 1946, um ano após o final da Segunda Guerra Mundial. Saí daquela igreja como se tivesse tirado um peso muito grande sobre meus ombros, com a sensação de missão cumprida. No final o pai, após tanta emoção, deixou de fazer sua oferta, lhe acalmei dizendo que na próxima semana, iremos lá novamente, para que ele possa realizar a sua oferta. E, finalmente, retornamos tristes para casa, pela lembrança da morte de minha mãe, mas felizes, por tudo ter dado certo. Até a próxima postagem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário