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Meu pai desde criança foi caçador. Caçador de perdiz, marrecão, ou seja caça de penas, embora também possa dizer que jamais, em uma caçada, iria desperdiçar, um tatu, uma paca ou uma capivara. Naqueles velhos tempos, não havia esse negócio de caçada proibida, apesar que sempre tinham de respeitar a época de migração das aves. Lembro-me de que eu muitas vezes o ajudei a preparar os cartuchos, colocando chumbinho, espoleta, pólvora, mas jamais gostei de caçada, nunca gostei de ver aqueles bichinhos sendo mortos, ainda que na pescaria a idéia é a mesma. Mas sempre preferi pescar a caçar. Os tempos passaram e meu pai agora com quase 90 anos, ainda se recorda por vezes de suas caçadas, me mostrando as fotos que já conheço de cor e salteado, mas que para agradá-lo, vejo tudo de novo, fazendo perguntas de como foi aquela caçada da foto, ou o que eles comeram naquele dia, quem preparava a comida, se estava frio e etc. Para quem não o conhece pensa se tratar de um velhinho indefeso, mas para os que o conhece, sabe que velhinho não existe em seu dicionário.
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Quando estive em Canoas-RS fui buscá-lo, mas ele é quem iria vir dirigindo, afinal tinha renovado a sua carteira por mais cinco anos! Tinha comprado um carro. Ele me disse que só me passaria as chaves do carro quando se sentisse cansado, eu pensei, então não irei dirigir nunca! Ele saiu de Capão da Canoa-RS dirigindo, pegou a freeway e entrou em Canoas-RS atalhando por Cachoeirinha-RS. Dali pegamos a BR-116 e viemos embora. É claro que a viagem não foi assim tão calma. É que para ele, não existe trânsito difícil, o contrário do que eu penso. Caso observo alguma dificuldade, procuro contorná-la, já ele prefere o trajeto mais difícil, pelo menos é o que parece para mim. Então, quando chegamos ao pé da serra gaúcha, ele queria porque queria ir rumo a Caxias do Sul/RS pela trecho mais perigoso e cheio de curvas beirando principícios.
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E eu queria ir por Portão-RS rumo a Antônio Prado-RS, pois por aquelas bandas não existem muitas curvas. Acabei ganhando! Ele tinha ainda comprado um GPS, que eu programava de cidade após cidade. Passamos a entrada de Caxias do Sul-RS, e já bem escuro, devia ser umas 20h chegávamos na cidade de Vacaria-RS. Ali em Vacaria-RS, eu já ficado num hotel de beira de estrada, mas localizado em um Posto de Gasolina, e ainda perto de uma churrascaria, e sabia que o local era muito bom, inclusive com um café da manhã estilo colonial. Chegamos ao hotel, nos acomodamos, e fomos jantar. Eu queria espeto corrido Ele nem estava com fome. Para minha tristeza não havia espeto corrido à noite, só PF, ou seja, prato feito. Tudo bem, comemos isso mesmo e fomos dormir. Pela manhã meu estômago estava roncando, parecia uma moto sem o cano de descarga.
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Fomos para o restaurante do hotel. Ao chegar lá para minha surpresa, nada daquele café que eu experimentei da última vez que estive por lá. Uns pãezinhos, pouca margarina, duas ou três fatias de mortadela, e uma de queijo, e ainda por cima o café estava frio, fraco e fedorento. Enquanto estávamos tomando aquele café e eu pensava em parar já na próxima lanchonete de beira de estrada, para dar uma reforçada naquele fraco café, chega perto de nós um moço, que meio sem graça, olhou para o meu pai e disse:
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- Com licença, o senhor deixou cair essas balas de seu bolso, e abriu a mão e mostrou pelo menos umas três balas de revólver! Ele pegou aquelas balas, meio sem graça, e ainda agradeceu. Eu lhe disse; - Mas pai para que o senhor está trazendo isso? - É para nossa segurança! Mas eu disse que a nossa segurança era Deus, e que não precisávamos daquilo. E se o homem fosse da Polícia Federal, ou algo parecido? - Ele me respondeu com toda a calma, que a Polícia do país todo estava em greve, que ele havia ido na Polícia Federal de Porto Alegre-RS para legalizar o transporte da arma com as balas, mas eles informaram que estavam de greve por tempo indeterminado.
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Ele estava mais atualizado do que eu. Dirigia ainda sem óculos, aos 89 anos, coisa que eu aos 48 anos não consigo. E agora mais essa! Não, não, o senhor vai colocar fora essas balas. Ele após algumas outras ponderações resolveu acatar, com muito custo a minha solicitação, pegou aquelas balas, olhou para os lados para ter a certeza de que não havia ninguém olhando e jogou-as na direção de um arvoredo, da qual saíram pelo menos uns cinco pardaizinhos. Vejam só, quase que ele ainda acerta os coitados dos bichinhos. A arma, ele deu para alguém que não me lembro. E retomamos a nossa viagem, rumo a nossa casa, em Rondônia. Ele só foi me dar o volante, após estarmos quase na metade do Estado do Paraná. Dai para cá tem mais estórias que contarei mais adiante. Até a próxima postagem!
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