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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

FOME + VATAPÁ QUENTE = DESESPERO!!!!

Quando cheguei em Ji-Paraná/RO, em julho de 92, eu tinha umas economias que ficariam guardadas no banco para o caso de alguma emergência. Não podia sair gastando  a torto e a direito, indo a restaurantes e etc. Como não sabia quando iria ter um emprego novamente, pois havia pedido demissão na FEBEM-RS para tentar a sorte pelas bandas de cá.

O Sul havia me fechado as portas. Formado em Administração de Empresas pela Unisinos, mandava o meu currículo para grandes empresas multinacionais, como a Massey Fergunson, Spring Carrier do Nordeste, Pólo Petroquímico. Mas quando eles me chamavam para alguma entrevista, pediam  noções de informática, ou noções de inglês, como não as tinha, não me chamavam, por último consegui uma entrevista no Pólo Petroquímico, lá  me disseram que não precisava nem de inglês, e nem de informática. Então me perguntaram qual a minha experiência, eu disse: - 8 anos de Febem-RS. - Então não dá meu amigo! Rondônia ainda engatinhava, a cidade mais antiga por aqui tinha 18 anos!

A cidade mais nova lá no Sul, tem mais de 100 anos!! Lá há muitas pessoas, fazendo bem qualquer coisa, há muito tempo. Então, não tem como concorrer com esse povo! Aqui como tudo estava começando,  eu queria crescer com a cidade. Chegando aqui em julho/92, o calor era absurdo. Tinha saído de uma temperatura que beirava os zero graus no Sul.

Então fui direto na TV Ji-Paraná, afiliada da Rede Globo, queria ter um programa de televisão no estilo de José Antônio Daut lá do Sul. O gerente me desaconselhou dizendo que a estrutura que eles tinham aqui não era a mesma que eu estava acostumado a ver lá no Sul. Aqui havia um motorista, um câmeraman que também era o repórter e ainda editava os textos que apareceriam na tela da TV.

Então me aconselharam a ir para a Rádio Alvorada. Lá fui eu. Chegando lá, foi a mesma coisa, eu queria agora ter um programa de rádio no estilo de Sérgio Zambiazi, lá do Sul, consegueria cadeiras de rodas para as pessoas, alguns medicamentos, uma cestas básicas etc. O responsável me disse que os horários já estavam todos preenchidos, mas tinha um locutor que havia se candidatado e teria que deixar o programa, e que era para eu ficar escutando a rádio no domingo das 14h às 16h, caso eu gostasse, poderia ficar no lugar dele. Achei uma ótima idéia. Então no domingo, na hora marcada liguei o rádio, e sintonizei a estação da Rádio Alvorada.

O programa era o mesmo que eu ouvia no Sul em algumas rádios. Era um programa evangélico onde o pastor fazia orações em alta voz, etc. Eu era católico nessa época, e não gostava de  ouvir aqueles gritos dos pastores, bem, gritos eu não consigo ouvir até os dias de hoje. Via que o programa não era para mim. Daí quando estava em casa, chegou o gerente da TV Ji-Paraná me dizendo que seu gerente comercial está de saída, e se eu quisesse ficar no lugar dele então que me apresentasse no dia seguinte. Legal! Pensei. No outro dia lá fui eu. Ele me deu uma tabela de horários da programação para que saísse a rua para vender. Nunca tinha vendido nada em minha vida. Mas aqui em Rondônia eu era realmente uma outra pessoa. Todos os meus medos ficaram lá no Sul. Aqui eu fui mais eu. Então bola para frente! Consegui vender duas publicidades, uma para o Jorjão Oxigênio, o qual conheci seu proprietário que também era gaúcho, e que eu próprio fiz o texto que apareceu na televisão, fiquei muito orgulhoso de mim mesmo. E outra foi para a Motos Honda, do falecido Marcão que foi meu amigo. Não conseguia abrir outras frentes pois as propagandas ainda estavam veiculando do contrato antigo. Só depois que eu poderia renová-los. Mas o rapaz que havia saído retornou novamente e daí fiquei sem o meu posto. Comecei a vender publicidade para a revista Fatos de Rondônia qual pertencia aos meus sogros.

Na época também fui na Ulbra, pois me senti em casa, sabendo que uma empresa da minha cidade Canoas-RS estava por aqui e era de onde eu vim. A Ulbra de hoje originou-se das antigas Faculdades Canoenses, a qual era situada na mesma Avenida Inconfidência em que eu morava. Lá eu consegui ter contrato como professor, já tinha feito um pós-graduação para docentes, a princípio lecionava Contabilidade I para as turmas de Administração de Empresas e de Contabilidade aos sábados. Ganhava menos que um salário mínimo mas já dava para ir salvando o pão nosso de cada dia! Em uma venda de publicidade em um local onde se faziam cópias, o proprietário após uma conversa comigo, na qual soube que eu lecionava na Ulbra, me propôs que desse aula em seu lugar, pois ele havia se candidatado a vereador, se não me falha a memória, e tinha que repor suas aulas, mas caso eu as repusesse então o Estado pagaria a ele, e ele me repassaria o dinheiro. Eu disse: - Tudo bem!
Dois dias depois eu estava me apresentando a Diretora Olávia da E. E. Júlio Guerra, que se tornou também muito amiga minha. Chegando lá procurei por ela: - Bom dia! A senhora é a Diretora Olávia? - Sim, sou eu! - E você é o professor gaúcho que vai repor as aulas? - Sim, senhora, quando começo? - Agora mesmo! E já foi me colocando uns dez Diário de Classe nas minhas mãos! - Um momento! Respondi: - Eu preciso de pelo menos 24 horas para me preparar! Eram várias turmas, todas do segundo grau, e eram três matérias - OTC - Economia e Mercado e Estatística.

Creio que no início me senti um peixe fora d'água, mas logo em seguida já na outra semana estava bem adaptado a minha nova realidade, a de professor tanto de faculdade quanto de segundo grau. Tanto que na primeira festa que houve no Colégio (eu estava com muita fome), a Diretora estava vendendo vatapá em uma  banca  da festa de São João, e daí me perguntou: - Professô, ela tinha um sotaque baiano, você gosta de vatapá? - Eu nunca tinha comido, nem a palavra vatapá tinha escutado ainda. Pensei Vá tapá! Vá tapá o quê? Pensava eu, então concluí que deveria ser vá tapá o bucho! Deveria ser alguma comida que se comesse demais talvez tivesse a sensação de encher o bucho! Gostei disso! - É lógico que eu gosto de vatapá (seja lá o que isso for).

Mas  ela continuou: - O senhor gosta de quente ou frio? Fiquei pensando com meus botões! Quente ou frio! A comida mais quente que havia comido no Sul era o tal do carreteiro, que é servido à mesa ainda com o caldo do arroz borbulhando na panela, e que deve ser comido pelas beiradas pois é menos quente. Como estava uma noite um pouco fresquinha, respondi. - Eu gosto de vatapá, mas é fervendo! Que desgraça! Eu jamais deveria ter feito aquilo sem saber o que comeria. A diretora me serviu  o tal do vatapá. Peguei o prato de plástico, esses de festinha de criança, e dei uma provada. Não senti nada quente (pensei eu)  porque será então que ela perguntou  se eu gostava de quente ou frio? A verdade é que eu não queria pensar em mais nada, só de comer aquele vatapá que estava uma delícia.
Nunca havia comido uma comida tão gostosa como aquela. Daí comecei a comer depressa para ser servido outra vez. Pedi mais para a diretora e ela de prontidão me deu outro prato, dessa vez, ainda tirei um sarro, falando: - Eu lhe disse que gostava fervendo, mas nem morno esse aí tava! - Só um momento ela me falou, e já me alcançou o prato que novamente devorei tudo, mas dessa vez começava a sentir algo diferente! Muito diferente! O gosto ainda era o mesmo do primeiro prato, mas por dentro acontecia algo que nunca tinha acontecido comigo. Logo após de dar a última garfada, ao retirar o garfo de minha boca, eu me sentia um dragão!! Parecia que eu havia comido fogo em vez do tal do vatapá.
Havia a sensação de que meu rosto estava em chamas, sentia fogo saindo pelo nariz, pelos olhos, pelos ouvidos. Minha língua adormeceu, tentei falar com outro professor qualquer coisa, mas eu mal podia balbuciar uma palavra, não saía nada de minha boca, a não ser a sensação de estar cuspindo fogo, labaredas de fogo. O professor não entendeu meu desespero. Joguei o prato que eu tinha  para cima e saí correndo. Salve-se quem puder! Corri para a sala dos professores. Lá chegando fiz uma coisa que jamais fiz em qualquer outra ocasião, abri a geladeira, havia ali pelo menos umas 20 garrafas de 2 litros cheios de água gelada.

Então num gesto desesperador, como se fosse apagar um incêndio de proporções bíblicas, arranquei a tampinha, e meti o gargalo na minha boca, e só retirei quando a garrafa já estava quase que 1/4 para secar. Foi a melhor sensação que eu tive na vida!! Estava aliviado finalmente! O fogo havia ido embora! Ainda um pouco atordoado pelo acontecido queria porque queria comer mais um pouco de vatapá. Não tinha me dado conta que era ele o culpado, ou melhor a pimenta colocada lá!

Então comecei a falar com um, depois com outro e fui sendo esclarecido aos poucos, como num ritual de iniciação oculta, do que realmente se tratava. A verdade veio à tona! Caso tivesse um celular eu teria ligado para o Padre Quevedo, pois podia se tratar de alguma paranormalidade descontrolada!

Eu pensei que talvez alguém tivesse colocado maconha  por engano no meu vatapá. Que sensação esquisita! Daí me viro  para a Diretora e vejo que ela está quase morta de tanto dar risada ao ver a minha situação! De lá para cá, já faz 20 anos, eu sempre como vatapá em festas de São João, mas nunca peço o quente e sim o mais  fresco! Fresco sim! Sou gaúcho e gaúcho muito macho e daí, eu gosto é do vatapá fresco! Até a próxima postagem!

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