O que vou relatar, é pura ficção, qualquer semelhança com fatos ou pessoas reais, terá sido mera coincidência. Era um sábado, em uma bela manhã de primavera que isso aconteceu, já faz muito tempo. Eu estava só em casa sentado em meu sofá, derrepente senti uma vontade incontrolável de escrever, tinha que encontrar de uma vez por todas uma folha e uma caneta ou lápis, algo que pudesse usar para passar para o papel aquilo que estava a aparecer em minha mente, era como se eu não escrevesse aquele momento, perderia uma parte de mim. Era algo incrivelmente mais forte do que eu. Inexplicável. Na época, eu fazia faculdade e, existia uma colega de aula, com muito mais idade do que a minha. Ela era casada, eu divorciado. Não tínhamos filhos. Então a primeira vez que falei com ela, olhei bem dentro de seus olhos que eram de um verde esmeralda, em que tínhamos que fazer muita força para desviá-los, caso contrário não se olhava para mais nada, nenhum lugar, somente para os seus olhos. O coração não disparou, mas em minha mente houve algo... Então, voltando ao assunto, após pegar uma caneta e um papel, comecei a escrever. Digo para vocês que comecei a escrever algo que não sabia o que estava escrevendo, não dá mesmo para entender, só sei que minha mão escreveu por uns longos minutos, e após, finalmente terminar, aí sim é que eu fui ler o que havia escrito. E o que eu tinha escrito é mais ou menos isso: É como se eu estivesse voltado no tempo, tipo uma reencarnação ou algo semelhante.
A cena se passava na idade média, em um castelo ou algo parecido. Havia um Rei e sua filha, uma princesa, dessas de conto de fadas etc. Eu era uma espécie de guarda costas dessa princesa ou seja, seu fiel escudeiro. Eu nunca podia dirigir o meu olhar aos olhos dela, pois isso era passível de punição severa, dado a minha condição de servo real. Estava ali somente para protegê-la, e mais nada.
Mesmo assim, ao longe podia observá-la, com aqueles longos cabelos dourados, encaracolados, naqueles vestidos que arrastavam até o chão, ela era realmente muito bonita, mas não era, e jamais seria para o meu bico.
O Rei queria ampliar seus poderes territoriais, e isso acontecia de duas maneiras, uma pela invasão de seu exército a outros reinos ou, se ele se aliasse a outro reino, dando sua filha em casamento, e assim fazendo com que seu poder se tornasse maior ainda.
Então, um dia o Rei chamou outro Rei de um reino próximo, e ofereceu a sua filha em casamento para o príncipe filho do outro Rei. Isso levou a organização de uma festança de proporções homéricas. Mas a princesa não queria casar com esse príncipe, pois ele era a seu ver, muito arrogante, tratava muito mal seus súditos, muito diferente da princesa, que mesmo com aquelas regras todas, de evitar aproximação com a plebe, nunca tratava mal seus subornidados.
Em um determinado dia ela estava muito preocupada, andava de um lado para outro, talvez na busca de uma justificativa para negar o casamento arranjado pelo seu pai, e por um momento passou em minha frente, nesse momento, automaticamente, levantei minha cabeça, e nossos olhos se encontraram pela primeira vez, era muito linda sim, na verdade não havia no reino todo, uma mulher mais linda do que aquela princesa, então ela afastou-se, e enquanto afastava-se seus olhos me fitavam e os meus a ela. Foi a primeira vez que olhei bem dentro de seus olhos, nunca tinha feito isso antes.
Esse fato fez com que por muitas noites eu não conseguisse dormir, lembrando-me daqueles olhos me fitando e vice-versa. Mas as coisas começaram a ficar muito descontrolada, quando a princesa resolveu dar um basta naquela estória, de uma vez por todas, negando o casamento com o príncipe escolhido por seu pai. Isso levou exatamente ao que o Rei havia evitado, ou seja, a uma guerra. O Rei e seu filho se revoltaram, pois haviam marcado uma cerimônia real, sem precedentes, muitos convidados viriam de todo o lugar da Europa. Então, o Rei junto com o príncipe e seu numeroso exército decidiu invadir o reino do pai da princesa.
O castelo que era enorme, ficava bem no meio de um jardim, esse jardim tinha uma mureta a meia altura, com árvores pequenas, do tipo de nossos pingos de ouro, quais desenhavam uma espécie de labirinto, muito bonito, bem no meio do jardim ficava um banco todo branco, para o Rei descansar e onde também recebia as visitas fora do castelo. Então, o dia da invasão tinha chegado, a notícia de que o príncipe havia ultrapassado os domínios do castelo, fez a princesa sair de seus aposentos, descer apressadamente por uma escada quase em espiral que ficava num canto da parede, seu vestido arrastava pelas escadas, e ela passou por mim como um furacão, eu estava ali para protegê-la, mas ela corria muito, e a armadura que eu utilizava era muito pesada e isso fazia com que meus movimentos fossem demasiadamente lentos para aquela situação.
Vi o Rei tombando no grande salão, trespassado por uma espada do outro Rei. Corri para fora do castelo, quando cheguei ao jardim, notei que estava todo desfigurado, pois dezenas de cavaleiros com seus cavalos, simplesmente destruíram aquele que um dia foi o jardim mais lindo que eu já tinha visto.
Era barulho de metal ensurdecedor, causado pelas espadas se tocando, havia gritos dos guerreiros do Rei invadido com os do Rei invasor, e o relinchar dos cavalos utilizados na batalha. Bem no meio desse tumulto, vi bem longe, dois cavaleiros se aproximando, um cavalgava num cavalo que era todo branco, e o outro num cavalo negro, que chegava a reluzir com reflexos da luz do sol, estavam enfeitados para a guerra esses cavalos.
Esses cavaleiros, mesmo de longe, eu conseguia distinguir, um era o príncipe do outro reino e o outro era o guarda real responsável pela segurança do príncipe, pois o cavalo branco pertencia ao príncipe e o cavalo negro pertencia ao seu protetor durante as batalhas, isso era uma praxe comum adotada naqueles tempos. Então um cavaleiro pegou parte dos cabelos da princesa pelo seu lado esquerdo e o mesmo fez o outro cavaleiro pelo lado direito e assim arrastaram ela, pelos cabelos, que acompanhava-os aos berros pois a dor era insuportável, mas ela não emitia mais nenhuma outra reação, acompahando os galopes daqueles cavalos. Bem ao longe, vi quando eles jogaram ela no chão, tinha caído quase desfalecida, então o príncipe pulou de seu cavalo, puxou uma espada da bainha que ficava preso a sua cintura, e desferiu um só golpe, no ventre da princesa indefesa.
Depois ele tornou a subir em seu cavalo, e juntamente com o outro cavaleiro foi embora. Eu não simplesmente assistia a tudo não, eu corria atrás deles, mas estava a pé, e as armaduras dificultavam a minha corrida.
Após alguns minutos, cheguei finalmente onde estava a princesa, ela ainda ofegava, seu vestido mesclado de bege e branco, havia uma mancha de sangue, aliás muito sangue, que escorria por suas pernas, ajoelhei-me perto dela, coloquei sua cabeça sobre as minhas pernas, abracei a princesa, sentindo as batidas de seu coração junto ao meu, ela ainda estava viva, balbuciava alguma coisa, mas eu não conseguia decifrar o que ela dizia, então ela me olhou novamente bem dentro de meus olhos, aqueles olhos ainda guardava uma beleza sem igual, verdes, lindos, quais me fitavam, essa foi a segunda vez que eu fitava aqueles lindos olhos verdes, ela estava ali, bem na minha frente, em meus braços, agonizando, dando os seus últimos suspiros, então me aproximei mais ainda dela, e lhe disse as seguintes palavras: - Não importa quanto tempo dure, mas um dia, em outra vida, em outra dimensão, quando nascermos novamente, eu te procurarei, e quando te achares, olharei bem dentro dos teus olhos, e lembrarei-me de você, quando assim proceder, recordarei também dessa promessa que estou te fazendo, e finalmente viveremos felizes para sempre. Você foi o amor que não pude ter nessa vida. Mas na outra chance de ter você, não irei deixar escapar, nunca mais, de mim. Ela fez um gesto com o seu olhar como me dizendo estar entendendo e confirmando tudo aquilo que eu falava. Então, me aproximei mais ainda e dei-lhe um beijo, que mal tocou os seus lábios. Ela havia expirado em meus braços. Seu coração parou de bater, seus lindos olhos se fecharam. Fiquei por muitos dias ali parado, com ela em meus braços, um choro silencioso saía de minhas entranhas, minhas lágrimas rolavam-me pela face sem parar, o que não estava molhado com o seu próprio sangue, molhava agora com minhas lágrimas.
Pois bem, anos depois também terminei morrendo, não me lembro em que circunstâncias. Mas nasci de novo, e nessa vida, quando ao sair da sala de aula, vi uma moça, de mais idade, ao longe, que mesmo de costas me chamava muito a atenção, então aproximei-me dela, bati em seu ombro, e quando ela virou-se para me olhar, logo olhei em seus olhos, e ela me fitou, seus olhos eram verdes, como esmeralda, fiquei fitando-a por um bom e longo tempo, sem dizer nada. Parecia que nossos olhares falavam por si só, era como se falássemos por telepatia, eu vi em minha mente, como uma tela de cinema, tudo o que havia passado em outra vida, e agora ela novamente ali, bem na minha frente, e me veio a memória na rapidez de um raio, na promessa que eu fiz, que a procuraria em outra vida e quando a encontrasse, olharia bem dentro de seus olhos, e saberia tratar-se dela novamente, e lembraria-me da promessa que eu fiz, na última vez que a vi na outra vida.
Essa foi a terceira e última vez que olhei para aqueles lindos olhos verdes. Um arrepio apoderou-se de mim, dos pés à cabeça, os pêlos de meus braços, de minha cabeça, enfim, tudo ficou arrepiado, como fica quando a gente acha que viu um fantasma, é algo inexplicável. Ela com mais idade, era plenamente justificável, pois ela morreu primeiro que eu, então ela nasceria também primeiro que eu, e por isso teria na próxima vida mais idade que eu. Mas o destino não quis, novamente, que, ainda nessa vida, nos reuníssemos. Então cada um seguiu o seu caminho. Bem, isso como eu disse no início, trata-se de uma mera ficção, e qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais, terá sido mera coincidência. Então pergunto, aquilo que escrevi foi psicografia ou o quê? Até a próxima postagem!,
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