A bondade, pensava eu, deveria ser a primeira grande característica do ser humano. Vi contudo, que a maldade é a que impera, algumas vezes sendo maquiada de bondade. Logo ao nascer, nos primeiros suspiros neste mundo, o bebezinho em nome de uma bondade, qual seja, de abrir, de limpar os pulmões, já ganha umas palmadinhas no bumbum, sem nada ter feito de errado, até aquele momento, pois simplesmente ainda não houve tempo para fazer nada. E logo, os seus pulmões, junto com a traqueia sei lá mais o quê, são abertos e os primeiros gritos de dor, são registrados nesta vida, o que, invariavelmente, faz com que a turma que está assistindo ao parto, seja o pai, tios, médicos, anestesistas, enfermeiras etc, até a própria mãe, consciente durante todo o tempo do parto, enfim, mostram-se alegres com aquele choro de dor, sim, as pessoas começam a se deliciar desde o início com as dores dos outros. Quem já não sentiu aquela vontade de que, quando se vai ao circo, ver aquela rede onde serve para dar proteção aos malabaristas, se arrebentar, e que ele se esborrachasse no chão? E quando alguém está para tirar a sua própria vida na iminência de se jogar do alto de uma ponte, ou de um prédio, logo ouviremos, alguém, com coragem, gritar: - Se atira, se atira! Pois é, não existe limite para o ser humano ver outro sofrendo. Quando se vê um parente na pior, e nós sempre de boa, até achamos graça da situação, e logo sugerimos várias possibilidades para que ele saia do aperto em que se encontra, mas até mesmo essas possibilidades sugeridas, é impossível de se realizar, fazemos isso com a desculpa de que: - Bem eu fiz o que pude! E aquele colega novo do trabalho então, é feito de bôbo o tempo todo. Eu, por exemplo, quando iniciei minha vida profissional como funcionário público, na FEBEM/RS, fui lotado no Setor de Contabilidade, lá existiam pessoas que já trabalhavam juntas há muito tempo, então ao perguntar o que eu faria, primeiramente, antes de mais nada, me cumprimentaram, é claro, mas logo em seguida, me mandaram buscar um tal de carbono pautado, como nunca tinha trabalhado antes, não sabia o que era carbono, ainda mais pautado, coisa que essa geração que está aí, também não sabe e nunca irá saber, parece que isso foi somente no meu tempo. Então fui ao Setor de Tesouraria, e eles me indicaram o Setor de Orçamento, e lá me disseram que o carbono pautado tinha sido levado para o Setor de Convênios, lá quando cheguei, perguntei em voz alta, pois já estava começando a achar demais, nenhum setor ter aquela droga de carbono, todos começaram a rir, quase se atirando no chão, era o setor que tinha mais servidores, e eles não aguentaram, o chefe finalmente abriu o jogo e me disse que era uma brincadeira que faziam com quem entrava para aqueles setores, então agradeci, mas ainda com dúvida, se era brincadeira em me mandarem para cada setor, sabendo que em todos eles havia o carbono pautado, e eles queriam me ver andar por todos os setores, ou era brincadeira por simplesmente não existir o tal carbono. Bem, a verdade é que eu saí dali, e havia uma cantina, então fui para lá, tomei refrigerante, comi uns pastéis, até a hora de entrar pela tarde, já que isso foi bem na hora do início da da manhã, e por sorte ninguém apareceu por lá. É claro que, quando eu cheguei no meu setor, todos perguntavam onde eu estava, inclusive a chefe, eu disse que estava procurando o carbono, mas parecia que não tinha mais, então eu iria embora para comprar lá no centro de Porto Alegre. E eles riram, e me abriram o jogo também, pois quando saí do Setor de Convênios, implorei para que ninguém dali contassem para os colegas de meu setor de que eu já sabia da brincadeira, pois agora eu é que daria o troco, e eles assim procederam. A sabem o porquê deles ter me ajudado?, pois eles estariam enganando não somente um, mas agora, um setor inteiro, e isso foi palco de muitas risadas. Depois de alguns anos na Contabilidade, me transferi para a Tesouraria, lá fui muito bem recebido pelo chefe e pelos colegas, o intervalo para almoço ia das 12h às 13h30min, tínhamos 01h30min de intervalo, almoçávamos no refeitório da Febem, no Padre Cacique, e já voltávamos para o setor, onde jogávamos o jogo de damas. Após umas semanas resolvemos fazer um campeonato somente entre nós quatro da tesouraria, tudo organizado, e começamos, o chefe ia em casa almoçava rápido e já voltava para jogar com nós. Havia um colega que ganhava de todos nós, principalmente do chefe, era jogo após jogo, ele foi nos humilhando, achando sempre muita graça de tudo, então quando faltava um pouco mais da metade do campeonato para o seu término, esse colega estava lá na frente, e nós nunca mais poderiámos alcançá-lo pois a pontuação dele estava muito alta, e entre nós havia ganhos e perdas, daí nos reunimos nós três que éramos amplamente batidos, humilhados, e chegamos a conclusão de que se aquele ganhasse o campeonato, ele iria sempre nos tirar para bôbos o resto do ano, então resolvemos fazer um acordo, no qual nós facilitaria a partida para o que estivesse mais próximo do seu alcance, e assim foi feito, por acaso o chefe estava mais próximo dele, e começamos a perder para o chefe, e contra aquele colega, jogávamos tudo o que podíamos jogar, o que sabíamos e começamos a tirar pontos dele e entregávamos as partidas para o chefe, mesmo assim, no final do campeonato, o chefe ganhou ficando com apenas um ponto na frente. A pontuação era 2 pontos para vitória, e 1 para, caso houvesse empate. Então o colega não acreditava como o chefe tinha sido campeão, daí para frente organizamos vários outros campeonatos, havendo até mesmo concordância em que seria o próximo campeão, fui algumas vezes, outro colega outras, até que para dificultar ainda mais a situação daquele colega, instituímos uma contagem de pontos jamais vista em todos os tempos, em se tratando de jogo de damas, que era o seguinte: 1 porco, 3 pontos; 2 porcos, 5 pontos; e de três porcos para cima, 10 pontos, o porco equivalia dizer que uma pedra trancava o andamento da outra do adversário, formando o que chamávamos de chiqueirinho, o resultado disso tudo é que aquele colega que jogava damas muito mais do que qualquer um de nós, nunca foi campeão, e também nunca desconfiou de nossa trama até os dias de hoje, não sei se é vivo ainda, mas gostaria muito de dizer-lhe a verdade. Veja até onde chega a maldade das outras pessoas. Mas penso que assim como aquelas palmadinhas no bumbum dos bebês que dizem ser para o próprio bem deles, assim foi o nosso jogo de damas, para o nosso próprio bem. Essa é a filosofia da bondade, a felicidade de uns é a desgraça de outros. Pensem nisso! Até a próxima postagem. Obrigado pela visita!
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