Após Jesus ter
ministrado seus ensinamentos nas cidades de Tiro e Sidom, as quais abrigavam os
gentios, povo diverso do judeu, e onde lá, muitos creram na Sua Palavra e onde
foram operados grandes milagres, voltou para a Galiléia, localizada mais ao sul
dessas cidades. Da Galileia partiu para os confins da Judeia, além do rio
Jordão. (19.1)
A Judeia abrangia as
cidades de Jerusalém bem ao sul, e também as cidades de Betel, Jericó, Belém
além de outras. Já o rio Jordão ia desde o Mar de Tiberíades ou Mar da Galiléia
do norte até ao Mar Morto ao sul. Como o texto nos relata que foi além do Jordão,
pode ter incluído a Peréia nessa viagem, a qual não fazia parte da Judéia,
passando de volta por Jericó e o próprio Monte das Oliveiras, rumo a Jerusalém
sua última morada. Nesses lugares, Jesus também atraiu multidões, mesmo sabendo
que Sua jornada estava chegando ao fim, não se limitou a ministrar as boas
novas ao Seu povo, indo buscar as almas/ovelhas perdidas em outras pastagens.
Com quase toda a certeza, muitos vinham de Decápolis, as cidades situadas
naquela região, para tomar suas benções e até mesmo acompanhá-Lo até Jerusalém
para a celebração da Páscoa. Logo, pelo caminho, alguns fariseus¹
aproximando-se Dele, o submetendo a uma prova psicológica perguntaram se era
lícito ao homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo.
A pergunta, caso fosse
feita para um simples mortal, não seria nada simples de ser respondida, mas
esse não era o caso de Jesus. Havia nessa época, duas correntes de pensamentos
e ensinamentos dos judeus sobre esse assunto, uma a de Hilel² e outra a de
Samai³. Os adeptos da Escola de Hilel os quais aceitavam/permitiam o divórcio
quase que por qualquer motivo ou capricho do marido e os adeptos da Escola de
Simai os quais só aceitavam o divórcio em caso de infidelidade conjugal. Logo,
o que buscavam na verdade era algum deslize de Jesus para o incriminar, pois
muitos judeus exerciam a figura do divórcio por motivos insignificantes, podia
ser até pelo fato de ter encontrado uma mulher mais bela, por exemplo.
As Leis Mosaicas,
permitiam a figura do Divórcio, mas com o passar dos anos, essas passaram a ser
cada vez mais liberais e favoráveis ao homem. Toda a interpretação da Lei,
porém, havia dois padrões de aceitação, uma seria a tolerância para com os
homens e outra seria severa para com as mulheres. Tinham essa permissividade
baseada na interpretação errônea de Deuteronômio 24, 1:
"Quando
um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar
graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de
repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa"
Era também aceitável
ao homem tomar uma mulher como concubina. Caso Jesus desse uma resposta
rigorosa, não dando margem ao divórcio, estaria ofendendo o próprio Herodes e
aos judeus seguidores de Hilel, caso fosse mais liberal ofenderia aos judeus
seguidores de Samai. Jesus não respondeu diretamente, porém, contornou o
problema explicando a situação em sua forma original, ou seja, segundo os
princípios originais de Deus sobre o matrimônio, indiretamente atacando, a
forma como a questão foi, ao longo dos anos, erroneamente adulterada por
interpretações diversas, feitas pelas mãos dos homens.
A resposta veio nos
versículos 19, 5 e 6:
"E
disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão
dois numa só carne?
Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem".
Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem".
Deus criou a união
indissolúvel e permanente do matrimônio, uma só carne, se assim não fosse,
Jesus teria dito. E essa, é a condição aceitável, uma mulher para cada homem.
Interpretação essa que se estende além da união da parte física, mas também da
parte espiritual. Não caberia portanto, ao homem, constituir-lhe o
divórcio. Jesus foi além das Escolas teológicas dos judeus estabelecendo
uma moral muito mais elevada. Não contentes com a resposta de Jesus, eles, os
fariseus insistiram em Lhe desafiar, para buscar alguma contradição em suas
Palavras que pudessem incriminá-Lo de fazer com que seus discípulos e
simpatizantes, fossem orientados a seguir doutrinas as quais seriam diversas
das deles, em 19, 7:
"Disseram-lhe
eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e
repudiá-la?"
Os fariseus sendo os
seguidores estritamente da Lei, cegamente interpretavam as Leis Mosaicas como
forma de determinação ou ordem, dessa feita, atribuindo a Moisés mandamento
diverso, ao dizer que Moisés "mandou" ao homem dar à mulher carta de
divórcio e repudiá-la. Jesus vai novamente corrigi-los afirmando que Moisés
"permitiu" e jamais "mandou" repudiar as suas mulheres, dando-lhe
carta de divórcio. Tanto é verdade que a própria Carta de Divórcio não seria
assim tão simples de se obter. Era um documento elaborado sob a direção de um
levita, o qual também servia para indicar o abandono de propriedade, necessário
o ato em si, no caso o adultério, a infidelidade, ou seja, as razões do
referido divórcio, os nomes das pessoas envolvidas, dos respectivos genitores
em dava à mulher, permissão legal para casar-se com outro homem. Na sociedade
judaica de então, somente ao homem cabia se divorciar da mulher e não ao
contrário. Porém, com a submissão daquela região aos domínios romanos e
anteriormente gregos, estes permitiam em suas legislações, que as mulheres se
divorciassem de seus maridos. Assim, Herodias e sua filha Salomé, teriam se
divorciadas em conformidade com as leis romanas. De qualquer forma, as
formalidades das Cartas de Divórcio tinham a finalidade de desestimular esse
ato. A permissão da qual se referiu Jesus Lei de Moisés se destinava a
casamentos errados e impossíveis, que por causa da dureza dos corações dos
fariseus, a fim de evitar crueldades por parte do homem que perdera o interesse
pela sua própria esposa, pois a sociedade era altamente machista. E continuou
Jesus, em 19, 9:
"Eu
vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de
fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada
também comete adultério".
Somente o ato de
adultério tinha a justificativa para se divorciarem. No caso de divórcio, não
tendo sido o motivo de infidelidade, caso viesse a casar de novo, este então
cometeria adultério, bem como, aquele que se casasse com a repudiada sem o
grave motivo mencionado. Havia ainda a interpretação, segundo alguns
intérpretes, que caso a mulher tivesse dado causa ao divórcio por atitude
infiel fora do casamento, somente ao homem seria lícito casar-se novamente, mas
não isso não seria permitido à mulher. Ainda é de se ressaltar que na
época primitiva, o devedor sem recursos, se tornava escravo do credor, e toda
sua casa, integrando sua mulher, filhos, empregados, terras etc, aliado ao fato
do concubinato, onde as relações eram amplamente aceitáveis sem qualquer tipo
de culpabilidade ou de punição. Toda essa situação, inclusive as quais também
comungavam os seus discípulos, mostravam à Jesus, um insuficiente
desenvolvimento espiritual dos mesmos. Não sabemos ao certo se depois dessas
coisas, os fariseus se retiraram do local, envergonhados pelas suas questões de
baixo entendimento humano em contraponto com a alta visão de Deus, ou se
permaneceram ali, escutando agora o que os discípulos de Jesus, questionavam,
como em 19, 10:
"Disseram-lhe
seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não
convém casar".
Certo é que os
essênios, outro grupo religioso da época, praticavam o celibato como obrigação
em ter uma aproximação maior de Deus. Os discípulos, acostumados com as
orientações a eles dadas, anteriormente, pelas autoridades sacerdotais, ficaram
também surpresos com as respostas, e, considerando a dificuldade em se manter
um casamento que não deu certo, e, pela impossibilidade de um segundo divórcio,
então, considerando os ensinamentos os quais vinham tendo da parte do próprio
Jesus, acharam por bem, que o celibato seria a melhor opção. Jesus trata
de, mais uma vez, esclarecer aos discípulos o fato de que, a impossibilidade a
qual eram entendidas por eles, não eram as mesmas de Deus, porquanto, o que
para eles seria impossível, para Deus era possível. Assim, entenderam que
não é por causa do celibato ou nem por causa de um casamento sem divorcio que
iriam herdar a vida eterna ou de serem aceitos no Reino dos Céus, mas sim pelo
ato de serem e fazerem a vontade do Pai Celestial, Criador dos Céus e da Terra
e de tudo o que neles há. Viram que em sendo assim, o que era solteiro não
seria mais importante do que fosse casado. Jesus continua com seu ensino
quanto ao assunto, como em 19, 11:
"Ele,
porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem
foi concedido".
A questão de não
casar, poderia se dar por um tipo de celibato recebido como um dom de Deus. E
não a simples escolha do celibato propriamente dito, em sendo solteiro. Então,
Jesus, com toda a humildade e paciência, esclarece divinamente mais essa
situação, a de quem é dado essa função, em 19, 12:
"Porque
há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram
castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do
reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o".
Os
eunucos eram aqueles que tinham a função de proteger, de cuidar do dormitório
das mulheres do rei, sem que representassem qualquer desvio de conduta sexual
no cumprimento de suas funções. Tendo Jesus relacionado cada tipo.
Há os eunucos que
nasceram assim, pela vontade de Deus, com alguma disfunção ou defeitos físicos,
sem que isso fosse causado como punição por algum castigo dos seus antepassados
como costumavam a acreditar. Na época, eram conhecidos como eunucos do sol, pessoas
que nunca viram o sol, também chamados de eunucos pelas mãos dos céus para
diferenciá-los de outros tipos. Havia os eunucos feitos pelo próprio homem,
para esses, eles mesmos se tornavam eunucos para trabalharem nos palácios,
outros se tornavam eunucos, pela crueldade dos invasores estrangeiros os quais
os faziam de escravos. Alguns intérpretes consideram que João Batista e Paulo,
se tornaram eunucos espirituais por causa do Reino dos Céus.
Para os indivíduos
que receberam esse dom de Deus, essa habilidade de atingir alvos ainda mais
elevados para alcançar o serviço ao Senhor, o celibato seria um ato louvável. Para
concluirmos esse assunto, vejamos o que Jesus menciona em 22, 30:
"Porque na ressurreição nem
casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu".
Jesus faz essa linda definição de como será a vida celestial, seremos todos como anjos. Esperamos que possamos continuar publicando essas postagens. Tenham todos uma excelente semana e fiquem com Deus na Paz de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo de Nazaré que realmente vive e reina junto com o Pai de Eternidade a Eternidade. Até a próxima postagem!
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